quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Anjos existem, lembrança da Margô


A foto mostra a página do álbum da mamãe com fotos da nossa casa no Cosme Velho.


Sempre contava essa história para os meus filhos quando eram pequenos, e agora para os meus netos. Quando a gente começa a falar sobre anjo, aí a gente começa a perguntar: mas anjos existem?? Daí eu sempre falo que sim, porque eu já vi um anjo!!

Foi um dia, não sei qual é o ano que foi, para mim era 1969 eu tinha uns nove anos, mas eu acho que foi antes, 1966, e a gente morava na casa do Cosme Velho. Tinha um morro enorme atrás de floresta, e pedra, e a minha avó tinha feito uma casa do lado, mas não tava morando lá ainda. A casa estava pronta, até fogão ela já tinha levado. E o que aconteceu? Começou uma chuva enorme, muito forte, e a gente teve que sair da casa. Eu me lembro muito bem que a gente tava de pijama, a gente era pequeno, e a gente teve que pegar travesseiro e entrar no carro. E eu lembro que antes de sair, meu pai e meus irmãos mais velhos foram na casa do meu tio do lado salvar um moço que tava lá, porque tinha caído uma árvore em cima da casa. Eu lembro do moço deitado no chão lá de casa num colchãozinho que a minha mãe pôs pra ele se deitar. Ele estava com muita dor, acho que ele tinha quebrado as costelas. Eu não sei que aconteceu com esse homem depois. 

 A gente entrou no carro, lotado de gente, e tivemos que descer a ladeira, uma ladeira muito muito íngreme. A gente não via nada, a ladeira era um rio. Apareceu um moço. Nesse tempo não tinha muita casa lá na minha rua, tinha muito pouca casa e a gente foi descendo a rua e apareceu um moço. Nessa rua não tinha ninguém, quanto mais naquela hora de madrugada, e chovendo torrencialmente. Apareceu um homem e deu sinal para a gente, falando para a gente não continuar que tinha um buraco muito grande lá. Meu pai deu a ré e foi por um outro caminho, na outra ladeira mais íngreme ainda, para ir até o Leblon para gente ficar na casa da minha tia. 

Uns dias depois a gente voltou lá na casa. A casa da minha vó caiu inteirinha, não sobrou um tijolo em pé. Ainda bem que ela não tava morando lá. E a nossa casa tava com lama mais de um metro dentro da casa. Se a gente tivesse caído nesse buraco ia morrer todo mundo. Era um buraco muito grande, a gente viu depois. Então para mim esse moço que estava lá era um anjo! 

Escrito pela Margô.


Petô adicionou:

Lembro direitinho. Foi em 1966. Papai teve que subir a ladeira do Corcovado de ré. Alguns de nós acho que tivemos que sair do carro para aliviar o peso. Nosso carro era uma perua Simca Jangada, que não tinha força.

A gente tinha saído de casa com medo de deslizamentos por causa do temporal inaudito que estava assolando a cidade; fomos distribuídos pelas casas dos parentes. Quando acabou a chuva, voltamos lá em casa (a pé, pois o carro não chegava mais lá, a rua já era), nos deparamos com um espaço vazio onde era a casa da vovó, que estava em fase de acabamento. O barranco atrás da casa deslizou desde a rua de cima, levando tudo. A casa toda atravessou a rua e foi parar, em escombros, no jardim da casa em frente (que depois a vovó alugou). A rua estava bloqueada por um monte de entulho com uns 4 metros de altura.


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Pode-se ver online sobre isso: https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/em-1966-enxurrada-matou-200-pessoas-deixou-mais-de-30-mil-desabrigados-8970534




terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Um blog para nossas lembranças

Esse blog é dedicado às lembranças e histórias engraçadas e interessantes da nossa infância e juventude em casa. Assim passamos essa riqueza para nossos filhos e sobrinhos, netos e bisnetos, e as gerações após deles! Nos mantendo unidos através da gratidão que temos, assim honramos a memória de nossos queridos pais.